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    Linguista aplicado, escritor e professor da Universidade Federal do Sul da Bahia. Veja currículo completo AQUI

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  • Artigo fala das identidades de raça e classe social no ensino-aprendizagem de língua estrangeira







    Em artigo publicado na Revista Palimpsesto (n. 23), as identidades de raça e classe social são estudadas e analisadas no ensino-aprendizagem de língua estrangeira. Confira o link para o artigo completo a seguir:

  • O Maníaco das onze e meia em aula pública no Ocupa UnB



    Na semana passada fui convidado pela professora Dra. Janaína Soares para uma aula pública no Ocupa UnB (Ocupação do movimento estudantil na UnB contra a PEC 55 (241)) para falar do meu recém-lançado romance policial "O Maníaco das onze e meia" (Multifoco, 2016) e a situação atual do país, Confiram nos vídeos a seguir como foi a atividade:







  • Gabriel Nascimento: Qual a cor da ciência?







    Na adolescência Gabriel deu uma ajuda voluntária à professora Celinha na pré-escola, escreveu uns poemas e tomou gosto pelo professorar. Na verdade, e diga-se de passagem, Gabriel ia também ser amigo da escola para comer a merenda no recreio, mas não vem ao caso mencionar aqui esses motivos todos. 

    Fato é que ele chegou à universidade, num curso de licenciatura e se tornou professor. Foi lá também que conheceu a ciência. Conheceu, para não mais esquecer, sob a batuta de uma preta, a doutora pela Universidade Alcalá de Henares, Maria D’ajuda, tudo sobre ciência. 

    O que Gabriel pensava ser ciência? Uma série de gente branca, presa num laboratório fazendo pesquisa experimental. Era o que ele via no Fantástico e no Globo Repórter da TV Globo. Ele viu aquilo a vida toda. Mas a ciência que veria dali em diante não era nada igual o que passava na telinha. 

    Maria D’Ajuda era muito exigente e criteriosa, publicava muito em periódicos e tinha relação com meio mundo das sociedades científicas. Era uma das únicas pesquisadoras negras daquela universidade a ser doutora. Ela nunca falou de racismo explicitamente ou do racismo que sofreu na Espanha, mas aquilo foi sendo arrancado pouco a pouco. 

    Competente, profissional dedicada, ela e Gabriel choraram juntos muitas vezes descobrindo como a vida consegue juntar dois negros numa universidade que no passado pertencia à elite cacaueira. (Parêntesis importante: Uma amiga negra dia desses me contou que foi esperar a ex-ministra negra Nilma Lino num aeroporto e ficou apreensiva porque não portava nenhum papel identificando que ela era a pessoa que esperava a ex-ministra. Ao sair do embarque, sem conhecê-la, a ex-ministra foi ao seu encontro, única negra ali, e lhe abraçou, dizendo: “Pra a gente se ver, a gente só precisa se enxergar”). 

    A professora Maria D’Ajuda, a que enxergou Gabriel, era uma grande cientista e Gabriel queria ser que nem ela. Consta que ela o ajudou até demais: presentes, dinheiro para ir a congresso e uma bolsa de iniciação científica do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e da universidade. 

    Foi ali que Gabriel descobriu de verdade a ciência e pelas mãos de sua igual. Foi ali que Gabriel descobriu que a ciência não tem uma cor só, a dos brancos presos pesquisando em seus laboratórios de pesquisa experimental, mas tem várias cores e a sua cor também ia embelezar a ciência. 

    No início nem consta que soubesse que a pós-graduação poderia ser seu futuro até conhecer aquela pesquisadora negra. Dali em diante foi um pulo para querer sair publicando em periódicos, resumos e artigos completos em eventos técnico-científicos. Dali foi um pulo para sua entrada na pós-graduação. 

    Foi dali que Gabriel partiu para refletir a cor da ciência. Os objetos científicos majoritários, ainda acomodados e conformados pelo positivismo, pela racionalidade técnica e pelo angloeurocentrismo, ainda são brancos, mas não precisam ser a vida toda. E não poderão ser com a luta que se firma dia após dia. 

    A superação do racismo não é um desafio para a sociedade em geral só no sentido de combater a discriminação (sua forma manifesta), mas todos os seus elementos em geral. Uma forma de racismo preponderante na ciência é o racismo epistêmico ou científico. 

    No Brasil ele é representado pela teorização do brasileiro cordial, passando por Gilberto Freyre, e sua ideia de harmonia no cruzamento das raças, e por Sérgio Buarque no seu brasileiro cordial. O racismo no Brasil adquire essa faceta cordial e a identidade do povo brasileiro, 52% de negros (pardos e pretos) segundo o último censo geográfico do IBGE, vai sendo subrepresentada, ora pela teoria do brasileiro cordial, negando o racismo e narrando uma suposta democracia racial, ora pela ideia falsamente maculada de miscigenação do povo brasileiro, desde Gilberto Freyre, e interpretada como identidade una. 

    A intelectualidade branca, disfarçando um cânone branco, ainda tentou por vezes chamar nossa identidade de bricolage ou pastiche como gêneros, tentando usar palavras bonitas para tratar a mistura do povo brasileiro rumo ao embranquecimento. 

    O “nem brancos nem negros, todos somos humanos” e o “você não é negra, é morena” são filhos desse movimento. São séculos de brancos intelectuais falando por negros no Brasil e, não que estivessem mal intencionados, chegou a hora de negros falarem por negros. Vozes como Clóvis Moura, Milton Santos e tantas pesquisadoras e pesquisadores negros e negras vieram para dar um basta nessa forma de subrepresentação. 

    A cor da ciência está mudando. Em mais de uma década de governos populares de Lula e Dilma, a ciência vem tomando outras cores. Pretos e pretas olham para a ciência com outros olhares e questionam cada vez mais a própria ciência. 

    O habitat natural do cientista não é mais só o laboratório ou a universidade, é a vida, onde a teoria passa a existir nas e das práticas, quebrando pouco a pouco a branca epistemologia ocidental que vem promovendo o maior genocídio cultural da história: o silenciamento. A nossa voz, rouca, firme e contundente brota e não quer mais calar e é o cientista que conta que Gabriel, que queria ser empresário para ajudar tia Dene, vem aprendendo a ler de verdade, tia Dene, vem aprendendo a ler a vida. 

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